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8 anos Mito ENSINO RELIGIOSO: O MITO COMO CONTRIBUIÇÃO NA EDUCAÇÃO HUMANA Elizandra dos Santos Brasil Ivone de Lourdes Dmengeon O que é mito? Desde os primórdios da humanidade estamos em meio e contribuímos com as evoluções. As descobertas, as criações e invenções sempre foram uma constante na vida das pessoas. Parece que isso é uma prova que o ser humano quer buscar algo que ao mesmo tempo parece estar ao seu alcance pela sua inteligência e em contrapartida através das suas busca anseia pelo não desvendado como se fosse a resposta sobre as indagações a respeito do mistério de estar e permanecer vivo. O desconhecido interpela, incita, provoca a ação em favor de uma resposta que seja adequada às inspirações mais íntimas que cada ser traz em seu interior. Onde está a origem da vida, então? Qual o significado que ela tem para cada pessoa? O mito é fantasia, porém é concretude. Mito é a extensão do anseio, do desejo do ser humano de explicar e ser explicado, de entender e de ser entendido. Para ELÍADE (P.17 1972), “... conhecer os mitos é aprender o sentido da origem das coisas... Aprendem-se não somente como as coisas vieram à existência, mas também onde encontrá-las e como fazer com que reapareçam quando desaparecerem”.Daí a importância de procurar conhecer o sentido de diferentes mitos, e de aplicá-los no cotidiano abrindo oportunidade para que o respeito entre o diferente seja estabelecido e caminhe para uma permanência sempre maior e eficaz; e para que todos sejam privilegiados da fonte de enriquecimento que as diversas tradições religiosas existentes têm a oferecer a partir das suas estruturas, doutrinas, ritos. O mito, segundo a ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA DO BRASIL, “constitui uma realidade antropológica fundamental, pois ele não só representa uma explicação sobre as origens do homem e do mundo em que se vive, como traduz por símbolos ricos de significado o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência.” (p. 85, 1997) O ser humano anseia por desvendar o seu fim último, indaga-se de onde veio, o que faz aqui neste mundo e para onde vai, essas perguntas são pertinentes durante sua breve vida. Sua busca é em prol do seu desenvolvimento cultural, social, psicológico. Começa neste mundo e vai para além desta vida, fecho de sua crença e procura. E o interessante é que cada pessoa busca do seu jeito, segundo a crença na qual foi iniciado ou na qual fez a opção. O que importa é o sentido da vida, almejado, ansiado por todos independente da condição étnica, social ou cultural. De acordo com VIESSER (p. 85. 2005), mito-mythos – advém do grego, que significa etimologicamente fábula. Significando fábula, torna-se algo que é transmitido oralmente por nossos antepassados, tendo como base a fidelidade do repasse na transmissão das narrativas; para que o ser humano possa compreender a realidade na qual vive e assim, para que construa seu conhecimento acerca do que acredita. A existência humana em sua essência é uma fábula, onde o que se é, não está escrito. Pode-se prever alguma coisa, mas nunca delimitar em certezas estáticas, pois o ser humano é dinâmico, ativo. Com o passar do tempo faz parte da historicidade dos outros e vai construindo a sua de maneira criativa, única, peculiar. Já temos nos deparado com inúmeras ferramentas que explicitam experiências que vêm tentar ajudar o ser humano a construir-se como pessoa. Esse é o desafio e o propósito da das buscas ininterruptas que este realiza por toda a sua existência. O mito é, seguindo esta idéia, mais uma delas que, diga-se de passagem, alargam de maneira extraordinária as opções para o fim buscado. Ele materializa o que não é concreto. O mito colabora quando se trata também da religiosidade das pessoas, ele está incutido na mente humana, é fato indispensável na existência humana. Diante das diversas maneiras de como o viver e a vida se apresentam, como o ser humano conduz sua reflexão? Como ele interpreta a realidade que o cerca mesmo sem entender, ou ter alusões lógicas sobre suas dúvidas e anseios? O mito da criação de matriz afro, segundo a CARTILHA DIVERSIDADE RELIGIOSA E DIREITOS HUMANOS: “... no principio havia uma única verdade no mundo. Entre Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aivê (mundo natural) existia um grande espelho, assim tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava perto do Orun e bem perto de Aiyê. Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mão do pilão tocou no espelho, que se espatifou pelo mundo, Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo) Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única. E concluiu Olorum: ‘De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra.” Assim, como este, existem inúmeros outros mitos que trazem ao entendimento indagações a respeito do novo, da criação, da descoberta. É o ser humano querendo explicar-se e buscando explicação acerca do que não conhece, mas deseja conhecer e por que não tocar e ser tocado? Sobre o prisma da Enciclopédia Britânica do Brasil, vemos que o “mito como uma narrativa tradicional, contudo religioso, que procura explicar os principais acontecimentos da vida das pessoas por meio do sobrenatural” (p.85. 1997) conduz a um entendimento da realidade à altura da capacidade humana para tal. Já que adentramos com isso, no plano metafísico, onde com nossa inteligência alcança-se parte da verdade que se mescla de conclusões e expectativas... Mas que características, então, o mito traz, que de certa forma materializa e ajuda e assimilar situações para além dos fatos corriqueiros? O mito envolve o ser humano em sua teia e faz com que os fatos do passado sejam parte do seu presente, mostra que a ação e a vida humana está interligada. O mito “envolve acontecimentos supostos, relativos a épocas primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens. (história dos deuses) ou com os “primeiros” homens (história ancestral)”. (ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA DO BRASIL, p.86. 1997). Parafraseando Eliade, o mito relata uma história sagrada, um acontecimento que teve lugar num momento primordial, o tempo chamado “dos começos”. O mito conta sobre as obras dos seres sobrenaturais, e que de repente passa a existir no plano natural; é sempre uma forma de narração de uma criação, descreve-se como algo foi produzido, como começou a existir. E continuando ainda, o objeto do mito são as diversas situações em que se procura dar sentido ao mundo. É mediação entre o sagrado e o profano. É verdade escatológica e tem o ser humano como o ponto de ligação entre a realidade e o seu sentido último, a sua transformação última. O mito transcende a experiência do hic et nunc, o senso comum, e a razão. O mito não precisa de demonstração. Por isso, é uma linguagem apropriada à religião. Abrange maior amplitude de mensagens, desde atitudes antropológicas muito imprecisas, até conteúdos religiosos, pré-científicos, tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos. O papel do mito para o ser humano O ser humano na busca incessante em desvendar o mistério de sua existência tenta compreender esta realidade através dos mitos que lhe são apresentados desde seu nascimento; ou pelo menos, convencer-se de que o existir não é um acaso. As interrogações pertinentes estão sempre em seu percalço: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Esses questionamentos permeiam o mito da origem humana; que para Campbell (p.05, 1990) todas as pessoas procuram “uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos...” portanto, estar vivo é estar em sintonia com o interior de si próprio e, assim, procurar fazer o melhor fisicamente para que interiormente sinta-se bem e em paz. Realizando-se isso, ter-se-á uma experiência de vida, onde os significados estarão se movimentado de maneira a construir o que se almeja enquanto resposta para a existência. Vejamos como um pouco disso se dá: segundo Campbell (p.09. 1990), os adolescentes criam os mitos por iniciativa própria, ou seja, “... tem suas próprias gangues, suas próprias iniciações, sua própria moralidade. (...) Eles não foram iniciados na sociedade”. Eis a importância de conduzir, de aprender para poder ensinar, ou seja, se educar ethos aos adolescentes e aos jovens, para que dentro de seus costumes conheçam seus mitos e tornem-se pessoas que respeitam e adquiram sabedoria de vida, para que não abarquem a tendência de estarem entre os jovens que não crêem em mais nada, onde suas vidas tornam-se um abismo, um vazio sem significado; donde, então emerge as drogas, procuradas pelas soluções rápidas que oferecem dos problemas que talvez nem sejam problemas, mas sim confusões e mal-entendidos. Atualmente, de acordo com Campell (p. 10. 1990), “... as escolas visam somente à especialização”, deixando de lado as “histórias sobre a sabedoria de vida”, à qual o público dos adolescentes e jovens mostra-se interessado em aprender. Portanto, é importante ressaltar que se deve levar ao conhecimento dos jovens a introdução dos conhecimentos não-formais, a fim de lhes propor novas alternativas de vida. Sendo o ser humano repleto de questionamento a respeito de tudo que o cerca, cabe a ele se envolver na complexidade de sua vida, não em suas complicações, buscando as inúmeras alternativas que enobrecem e valorizam sua existência. Pois, conhecendo a existência da diversidade de culturas e que há uma infinidade de mitos através dos quais a pessoas se apóiam e ele se direciona para um itinerário que remete a compreensão e o prepara para que se adapte ao mundo em que vive de maneira pessoal e coletiva. Segundo ELÍADE (p.11, 1972) “o homem é um ser mortal, sexuado e cultural” devido as “irrupções do sagrado (ou do sobrenatural)”, exemplo disso é Simba de O Rei Leão, que volta à “luta” da vida devido à interferência do sobrenatural, ou seja, a aparição de seu pai é que o faz ver quem ele é realmente e lhe encoraja a voltar ao Reino; isso pode ser aplicado analogicamente ao ser humano: desde sempre procura formas de encontrar-se consigo mesmo, vai a procura das diversas religiões, a fim de identificar-se buscando mesmo sem saber o desvendar do mistério de si mesmo; procura algo que o ajude a preencher o vazio no qual sente que está imerso. Nesse caso o mito, se refere a busca do verdadeiro eu, à identidade pessoal, única, irrepetível; e às mais diversas realidades que faz com que o ser humano coloque um porquê às suas atividades do cotidiano. A tarefa de desvendar a sua origem é árdua, sem a qual não há compreensão nem do mundo pessoal, quanto mais do coletivo e do sobrenatural. http://www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pbf

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